
“Era uma escadaria interminável...
Dava em um poço escuro de incertezas...
E no final do túnel havia um muro...”
Esta madrugada pensei em me matar
Sempre penso, mas esta me fez refletir
E devanear
Pensei em escrever uma carta que dissesse:
Olhei pela janela, vi o mar
Olhei para o céu, vi a lua
E tantas estrelas!!
Ouvi o som tranqüilizante, hipnótico das ondas
Naquele momento eu estava completo
Com meu vinho e meus medos, meus unicos companheiros
Mas na varanda fazia muito frio
Vendo tanta beleza, tanta melancolia sentindo
E a contradição da completude
Minha mente estava aberta, livre
E eu vi a eternidade
E voei para ela
Para a felicidade incondicional
Para a eternidade
Para o não mais existir
Bastava um salto
Acabaria com as dores
Físicas e psicológicas
Acabaria com a mágoa da vida
Com a sina de viver
“O manto que carrego não mais me esquenta...
A sina que suportava não mais consigo...
A cruz que carregava não agüento mais...”
Sim, amigos, eu sei que vi apenas vinte e três primaveras
Mas destas primaveras não consigo me lembrar do sol
Apenas das dores, desânimos e desesperos
E os verões não foram melhores do que isso
Mas obrigado por sorrirem
Neste momento choro
Não de tristeza...Apenas acontecem as lágrimas
Choro por ver o horizonte e saber que este não é o limite
Lágrimas amargas escorrem por saber que estou triste
E que nada me faria encontrar um rumo, pois este não há
Amargas por ter sonhado em viver
Por medo
Mas doces por estar completo e querer morrer e ser este momento de totalidade o derradeiro
Uma madrugada, solitária, dois amigos um em cada mão, chuva no rosto e um último desalento
Por temer mais depressão eu quis morrer
Mas mais uma vez, covardemente não o fiz
E pensando nas risadas, nos prazeres momentâneos
Tive forças para levantar-me, servir mais uma dose, pegar um papel e escrever
“Falava comigo mesmo
Não me sentia tão sozinho
Embora completamente estivesse”
Vou repousar agora
E esperar que o sol da alvorada amanha não me incomode
Esperar alguns sorrisos
Esperar carinho
Esperar esperança
Adeus
Um adeus que não será um adeus mas que terá a esperança de ser
“Poderia adormecer e não mais despertar
Na inocência perigosa
Na ingenuidade tão bela!”
E assim seria a carta que hoje escreveria para este suicídio
Milhares de cartas e milhares de suicídios já houveram
E nenhum teve importância
Assim como nada o tem
Apenas sei que minha dor me importa
E meu suicídio apenas me importa até eu comete-lo
Mas não sou forte
Boa Noite amigos, boa noite”
Aceitam vinho?