
Já gastamos as palavras pela rua,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastamos tudo menos o silêncio.
Gastamos os olhos com o sal das lágrimas,
gastamos as mão à força de as apertarmos,
gastamos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Procuro por você
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Acreditava, que ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes
Hoje são apenas os meus olhos.
Olhos que choram pela tortura e culpa
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastei as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não tenho nada pra dar
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O meu ser me faz sentir um trapo
Tenho nojo e ódio de mim mesmo
E já te disse: as palavras estão gastas
Perdoe-me
Te amo e amarei, mas não fui capaz de dizer o quanto
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