domingo, 7 de setembro de 2008

Palavras gastas


Já gastamos as palavras pela rua,

e o que nos ficou não chega

para afastar o frio de quatro paredes.

Gastamos tudo menos o silêncio.

Gastamos os olhos com o sal das lágrimas,

gastamos as mão à força de as apertarmos,

gastamos o relógio e as pedras das esquinas

em esperas inúteis.

Procuro por você

e não encontro nada.

Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!

Era como se todas as coisas fossem minhas:

quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Acreditava, que ao teu lado

todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,

no tempo em que o teu corpo era um aquário,

no tempo em que os meus olhos

eram peixes

Hoje são apenas os meus olhos.

Olhos que choram pela tortura e culpa

É pouco, mas é verdade,

uns olhos como todos os outros.

Já gastei as palavras.

Quando agora digo: meu amor...,

já se não passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas,

tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.

Não tenho nada pra dar

Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O meu ser me faz sentir um trapo

Tenho nojo e ódio de mim mesmo

E já te disse: as palavras estão gastas

Perdoe-me

Te amo e amarei, mas não fui capaz de dizer o quanto

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