domingo, 7 de dezembro de 2008

Adios amigos!



Seria um belo dia de sol, cerveja na mesa e final do campeonato brasileiro. Seria. Se não fosse também o dia de meu enterro.
Estou em meu velório. Olho em minha volta, algumas pessoas queridas choram por mim, meu pai, pede o perdão que me negou em vida; minhas irmãs, pobrezinhas, quase vieram comigo. Uma ex-namorada apareceu também, e disse no meu ouvido que ainda me ama, muitos disseram coisas ao meu ouvido... Mas não falam comigo, acham que não posso ouvir, falam para si mesmos, como se ao desabafarem, pudessem apagar as marcas do passado, perdoar-se pelos erros cometidos e pelas coisas que deveriam ter feito - ou dito - para mim quando em vida... Engraçado, só agora estou percebendo as pessoas como elas realmente são. A maioria dos que acreditava que me amavam nem se deram ao trabalho de virem se despedir. Alguns vieram. Um ou dois, apenas para angariar votos para sua eleição pessoal, a maioria, no entanto, olha para o caixão e não me vê, tampouco sente alguma coisa, além de frustração por eu ter estragado seu dia de folga, cerveja e futebol. Se eu estivesse vivo, muitos dos que não apareceram estariam em minha uma mesa de bar agora... Tomaríamos cerveja e, juntos, brindaríamos nossa amizade. Mas morto não paga a conta. Devem estar brindando a amizade de alguém mais vivo. Não os culpo, amigos são feitos para momentos alegres, de dinheiro no bolso e sucesso na vida. Para a tristeza, a pobreza e os velórios, é preciso amor, coisa tão rara hoje em dia que ninguém mais tem culpa por não amar ao próximo.
Fico olhando as flores brancas que colocaram em volta de meu corpo, vejo-as murchando, e só então me dou conta de como foi rápida minha vida. Deixei de fazer tantas coisas, quantos projetos adiei; ficou tudo para o amanhã que não mais virá. Fixo na luz das velas, a cruz postada à minha frente e, finalmente, acabam de baixar em mim, olhos torturados pela dúvida, em um pranto desesperado e cheio de medos.
- Por que não falou comigo? Por que não pediu minha ajuda? - Começa a gritar minha amiga enquanto duas outras lhe seguram e pedem por calma. Eu digo que falei com elas, que pedi ajuda diversas vezes, lembro-lhes dos e-mails desesperados, das cartas dolorosas, dos telefonemas não atendidos e do ostracismo afligido a mim. Relembro o dia em que fui mais direto e disse estar com medo de morrer, que pensava em me suicidar embora não o quisesse e implorei por um perdão que não veio; do dia em que desapareci e ninguém se preocupou...

Mas, assim como não ouviram a nada disso em vida, mais uma vez ninguém me ouve. Penso então no que poderia ter ocorrido caso eu tivesse sido um pouco mais forte e não tivesse cumprido minha profecia. Provavelmente eu estaria vivo; as pessoas continuariam despreocupadas, aliás, despreocupadas não, na verdade, estariam mais preocupadas em se afastar de mim, perigo em potencial, que em me ajudar. Provavelmente, até me acusariam de louco e se afastariam cada vez mais. Eu não sei, talvez com o tempo até voltássemos a ser amigos, e fingiríamos que nada ocorreu; que sempre acreditaram em mim e que nunca me abandonaram. Minha dúvida é somente uma: elas não acreditaram que eu me mataria de verdade ou, apenas não ligaram para o risco de isso ocorrer realmente? Agora elas têm a oportunidade de refletir sobre isso, de se arrepender pelo abandono a que me submeteram, de não acreditar em mim, afinal, eu cumpri minha ameaça. Eu me matei.
Mas aí, eu me pergunto sem encontrar respostas: se eu não tivesse feito isso, se eu tivesse conseguido forças para não cometer o suicídio e seguir minha vida em frente, estas pessoas compreenderiam que não foi graças a elas?

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