sábado, 27 de dezembro de 2008

Constatação... Capitulo do diario de um suicida.





















A depressão é um problema médico caracterizado por continuada alteração no humor e falta de interesse em atividades prazerosas. O estado depressivo diferencia-se do comportamento "triste" ou melancólico que afeta a maioria das pessoas por se tratar de uma condição duradoura de origem neurológica acompanhada de vários sintomas específicos.

Os sintomas, geralmente associados ao quadro depressivo, incluem fadiga ou dores no corpo, insônia, mudanças no apetite, dificuldade de concentração, irritabilidade, medos irracionais e sentimentos de baixa auto-estima, culpa ou fracasso.

Sabe-se hoje que a depressão é associada a um desnível de certas substâncias químicas no cérebro e os principais medicamentos antidepressivos têm por função principal agir no restabelecimento dos níveis normais destas substâncias, principalmente a serotonina.

Pessoas deprimidas têm frequentemente pensamentos mórbidos e a taxa de suícidio entre depressivos é 30 vezes maior do que a média da população em geral. A depressão é considerada em várias partes do mundo como uma das doenças com mais alta taxa de mortalidade.

A depressão é muitas vezes classificada como distimia quando os sintomas permanecem por períodos muito longos de tempo (pelo menos seis meses) de forma "leve", enquanto que nas ocorrências graves da depressão os sintomas atingem proporções incontroláveis, impossibilitando as atividades normais do indivíduo e obrigando a internação devido ao alto risco de suicídio.


Uma depressão nervosa, foi desta forma classificado o meu desespero e toda a minha dor... Hoje em dia somos levados aos mais estranhos comportamentos, consideramos importante salvaguardar a nossa saúde ao ponto de sermos capazes de partilhar aquilo que temos de mais íntimo com um profissional especializado em problemas da psíque na esperança de que ele seja capaz de nos dizer como seremos capazes de arrancar a dor da alma...

Para mim foi mais uma obrigação do que um recurso, mais uma vez a pressão levou-me a fazer algo que eu não desejei fazer... encaminhei-me a uma sala simples, onde encontrei uma mesa redonda e duas cadeiras, sentei-me... à minha frente sentou-se a profissional que me iria salvar armada apenas por uma caneta e algumas folhas, onde cuidadosamente tirava apontamentos acerca dos meus sentimentos como se não fossem nada mais do que sintomas... cada frase escrita naquelas pequenas folhas sintetizava a minha vida ao máximo... fui reduzido e simplificado como se de uma fórmula me tratasse...

Dissertei um pouco, deixei que as lágrimas aprisionadas se libertassem uma vez que, apesar de ser uma total estranha. aquela pessoa tinha formação acadêmica para me compreender... reduzi-me eu mesmo a um caso de estudo tendo apenas o estranho conforto da confidencialidade a que ela é forçada. Falei, falei de mim e do que me afeta e transformei-me numa lista de indicações escritas a caneta... transformei-me num arquivo, a cada frase, a cada lágrima...

"O que te trouxe até aqui?", perguntou-me ela... nem sabia por onde começar, mas sabia que a verdade seria cortante, então escondi-a dentro de mim... apeteceu-me dizer-lhe que ela era o meu último recurso, que era apenas mais uma tentativa para que a dor fosse embora... Não o disse, refugiei-me apenas nos sintomas mais incomodativos e descrevi-os de forma sintética - "Não consigo dormir, não tenho apetite e perdi toda a minha capacidade de concentração".

50 minutos depois, já com os olhos inchados de um choro provocado não apenas pelo conteúdo do meu discurso mas também pelo fato de o estar a fazer perante uma total estranha cujo diploma a certifica como boa ouvinte, obtive um diagnóstico... a minha condição dolorosa foi reduzida a uma única palavra... depressão.

E a ironia das ironias? aquela profissional certificadamente útil não me podia ajudar... após 50 minutos a despir a alma, percebi que estava a falar com a pessoa errada e que o meu último recurso não era apenas mais do que o penúltimo... Nesse momento abateram-se sobre mim duas realidades, a da necessidade repetição de todo aquele processo, perante outras folhas e outro punho e a de, afinal de contas, estar doente...

Tive então de obedecer às convenções e cumprir duas tarefas, tentar perceber o que era afinal a depressão e comunicar a quem de direito, explicando-lhes então que esta dor que me incapacita e fragiliza ao máximo era, afinal, apenas resultado de um desnível químico...

Até onde poderá ir esta nossa necessidade de justificar tudo aquilo que nos acontece das formas mais idiotas? como poderei eu contentar-me pelo simples fato de reduzir tudo aquilo que me atormenta a uma maldita doença?! Como é que posso aceitar que reduzam a minha dor a um sintoma?!?! como?!

Será que de cada vez que encosto a minha cabeça na almofada a chorar o silêncio do quarto me remeter a todas as lembranças e ausências que me fazem sufocar estou apenas a sofrer da falta de serotonina? será então a dor por ter perdido a pessoa que , pela primeira vez em toda a minha vida, me fez feliz (minha ex noiva) uma conseqüência direta de uma síntese química anormal? será a minha solidão também uma conseqüência?!

Como pode o ser humano ser tão crédulo? não será este diagnóstico apenas uma incognita? - "Eu afinal estou doente e com tratamento médico e alguns comprimidos em menos que nada curo-me"... é patético!!! é um antidepressivo que me vai tirar a dor? é assim que se vai dissipar a minha culpa e a minha vontade de desaparecer do mundo?

Metade das pessoas que eu conheço estaria já cheia de razão a afirmar-se contra aquilo que aqui escrevi, e até consigo adivinhar o que diriam se aqui estivessem: "está a interpretar mal, a depressão explica apenas o fato de estar a sofrer de uma forma mais intensa", ou então, "A função do antidepressivo não é curar aquilo que te faz sofrer mas sim regular os mecanismos básicos como o sono e a fome"... consigo imaginar um enorme conjunto de contra-argumentos...

Contra tão brilhantes golpes só posso declarar que fui até alguém que me poderia dar uma estratégia para ir entendendo e interiorizando tudo aquilo que se passa comigo, no entanto, não saí de lá com nenhuma ajuda, saí de lá com uma doença..

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