
Hoje pela manhã fui ao parque do Ibirapuera, foi uma espécie de retiro, um momento pra refletir após tantos momentos difíceis em minha vida, confesso que ao chegar me senti um estranho no ninho, pessoas felizes, famílias brincando com seus cães de raça, desfilando com suas bicicletas caríssimas e olhei pra mim, um rockeiro com um violão nas costas, camiseta do Ozzy (quase branca de tão desbotada), um All Star rasgado e sujo, uma sacola com dois lanches de mortadela e uma caixinha de suco e uma pergunta pra mim mesmo: - que porra eu vim fazer aqui?
Meio sem jeito e sendo observado como se fosse um extraterrestre recém chegado de seu planeta eu me sentei próximo ao lago e retirei meu violão da capa, juntamente com meu caderno e duas canetas vermelhas, comecei a afinar meu violão e me lembrei de uma canção de Raul, “bom dia som” e quando me vejo estou tocando e cantando ela de olhos fechados, alguns curiosos me olham com cara de espanto mas eu nem liguei, ninguém conhece essa musica mesmo – pensei eu – engana-se uma senhora me aborda e pede pra que eu toque “medo da chuva” eu disse que não lembrava a letra toda, mas mesmo assim ela queria ouvir a melodia.
Enfim me despedi dessa senhora e comecei a pensar no meu lanche solitário.
Devia eu ter a convidado e repartir meus lanches?
Então viajei nas idéias e acordes do meu violão, Janis Joplin seria uma boa companhia pra comer um pão com mortadela?
Não, eu acho que não, ela ia querer LSD ou coisa parecida pra acompanhar.
Mas e se George Harrison estivesse aqui, tocaríamos varias musicas do Beatles... “My sweet lord”... Não, também não seria uma boa companhia
E se Raul estivesse aqui ao meu lado?
Ah! Ele iria preferir um “banquete de lixo” ou uma garrafa de pinga.
Podia estar aqui com minha mãe, seria uma ótima oportunidade de contar a ela tudo o que aprendi com sua ausência, falar da saudade que sinto e de meus planos do futuro...
Acorda João, todos esses que você citou já se foram, assim dizia minha conciencia.
E meu pai?
Seria um ótimo cara pra estar aqui e conversarmos, mas paro e penso com os problemas da perna e tudo mais não poderia sentar-se ao chão e nem pegar um ônibus como fiz!
- Mas espere ai!
Outra vez minha consciência
- já viu que horas são? São oito e meia seu burro!
Minha consciência não é muito educada, percebem?
Guardo meu violão na capa junto com meu caderno e guardo também meus dois paos com mortadela e o suco de frutas de caixinha e vou pra casa.
Chegando em casa onde meu pai se encontrava deitado e dormindo, abri a janela do quarto dele, dei um sorriso de orelha a orelha e disse:
- Pai o senhor sabe que eu te amo?
Ele respondeu:
- Eu sei seu merda mas deixa eu dormir.
Então peguei os dois lanches, o suco e sentamos na beira da cama e comemos e conversamos sobre o que esperávamos do dia de hoje e do futuro.
Moral da história:
Eu estava em um lugar onde todos me julgavam, sonhando estar com meus ídolos que nunca poderia vê-los e envergonhado por ter trazido meu café da manha de casa comprado com meu vale refeição, mas ao chegar em casa me deparei com meu ídolo de verdade e que não me julga por saber o tanto que faço por todos e que mesmo me chamando de merda adorou ter um “bom dia” tão alegre e uma conversa tão longa com alguém que o admira por qualidades que só convivendo pra saber.
Não importa o que se coma quando isso é feito ao lado da pessoa que te ensinou o valor de um alimento e da vida!
Não entenderam nada?
Nem eu
Me deixem viver minha loucura
“hoje eu te chamo de careta, e você me chama vagabundo”
Ps: Será que aquela senhora era real ou fruto de uma imaginação?
Na foto eu e meu pai quando passavamos horas no parque.
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