
Através da janela do meu quarto eu vejo a lua. A lua que bóia pálida no céu. Ela aparece e desaparece por entre as nuvens e uma tristeza vaga toma conta de mim. E eu penso então na vida e percebo, não sem certa dose de melancolia, que as coisas são assim: surgem, trazem seu brilho, sua força e sua grandeza. Deixam uma marca, um resíduo, uma lembrança e depois se vão, para reaparecer mais tarde, ou para nunca mais. O cometa Halley, por exemplo, ele vem, ilumina tudo e, depois, se vai, mas... passados de 76 anos, tá lá ele de novo, fulgurante, no céu; as coisa são assim, elas vem e vão. É aquele lance do eterno retorno. O retorno eterno do vivido, do sentido do experimentado. Os Beatles não voltam mais. Secos e Molhados possivelmente não. Os mortos do vôo 8054 quem sabe? Talvez voltem transformados... Os mutantes voltaram sem Rita Lee... O mundo é grande, complexo e cheio de possibilidades... O exilado, o desmemoriado, o fugitivo, o desesperado, o assombrado, o ermitão, o sem razão... Tudo sempre volta. Volta o cantor, o poeta, o pensador; voltam as flores, as modas, os dissabores; os sabores, os amores e os desamores. Tudo faz retorno: o fim de semana, o fim do mês, o ano novo. Vale a pena ver de novo. Vale a pena Verde novo.
Desde tempos imemoriais o homem observa a natureza e se faz perguntas e sente vontade de entender a razão das coisas, dos acontecimentos. Eu vejo a lua no céu neste momento mesmo, basta virar meu rosto e mirar ao alto à esquerda, pela janela entreaberta... (la luna, mira que bela....), a lua dos amantes, dos viajantes, dos poetas, dos solitários, dos navegantes. É um momento breve a ser capturado e sentido, pois daqui a instantes ela sairá do meu campo de visão e ficará somente um traço de memória, que logo logo também deixará de existir, pois não irei mais pensar nela, a medida que termino este texto de quem vai partir.
A crise não volta nunca porque nunca termina. Desde a mais tenra idade ouço que o país atravessa uma crise, que o Brasil está à beira do abismo, que do jeito que a coisa vai iremos ao colapso... Um eterno sentimento de que tudo vai mal, que a fase não passa, que não há solução.... São gerações e gerações que surgem e levantam suas bandeiras e desejam mudar o país. A juventude de hoje, mais relaxada, parece ter esgotado essa espécie que sonha e comete revoluções... cansou de lutar, de remar contra a maré, tem outras prioridades, talvez... mas como tudo volta, ela também chegará de novo, junto com um novo dia, e uma nova esperança nascerá nos corações. Pode crer que esperança e confiança são sentimentos que nos abandonam às vezes, mas que sempre retornam. Ainda bem que é assim.
Crise
Ando muito decepcionado com os homens
e comigo.
Com minha geração, em especial.
Íamos salvar o mundo
e falhamos.
Alguns ainda tentam,
Não me iludem.
Sem dúvida, merecíamos melhor sorte.
Nós –-- os ilustres fracassados
--- e o povo
que nem se dá conta
que tínhamos projetos ótimos para redimi-lo
'deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar rir para não chorar...'.
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